Link para Notícia no site da Folha de São Paulo: https://www1.folha.uol.com.br/equilibrioesaude/2021/12/queixa-de-dor-nas-costas-aumentou-na-pandemia-dizem-medicos-saiba-as-causas.shtml
Problema pode ser causado por má postura, estresse, problemas do home office e até tumores
Apesar de não ter estatísticas, para os médicos não há dúvida: a pandemia de Covid-19 levou mais queixas de dores nas costas aos consultórios.
Uma estimativa nada otimista da OMS (Organização Mundial de Saúde) aponta que 80% da população já teve ou terá dor na coluna pelo menos uma vez na vida.
Os especialistas também afirmam que, desde 2020, as pesquisas sobre dores na coluna na internet são mais frequentes —lombalgia é um dos termos mais procurados.
Ao observar os gráficos do Google Trends —serviço de análise de tendências da plataforma—, nesta segunda (6), em 2020 e 2021 percebe-se alta nas buscas por lombalgia em várias semanas, se comparado a 2019, cujo pico de interesse ocorreu apenas entre 12 e 18 de maio.
Em 2021, os cinco estados que mais pesquisaram este tipo de dor foram Pará, Goiás, Mato Grosso, Pernambuco e Tocantins. São Paulo aparece no 16º lugar.
A dor lombar não é a única que pode impactar na qualidade de vida de um indivíduo, pois a coluna tem outras duas partes: dorsal e cervical.
Em tempos de pandemia, a culpa pela dor pode ser da má postura devido à adaptação inadequada para o home office, estresse e até dos afazeres domésticos quando o corpo não está habituado.
“Tenho vários pacientes que me disseram que trabalharam no sofá de casa. Ficaram com a coluna e o pescoço tortos. Outros falaram que trabalharam na cadeira de jantar. São cenários em que as pessoas demoraram para chegar a uma adaptação ou mudar alguns hábitos e agora estão sofrendo as consequências”, afirma Matheus Felipe Borges Lopes, neurocirurgião do Instituto de Ciências Neurológicas de São Paulo, membro da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia e da North American Spine Society.
Outros fatores desencadeadores de dor nas costas são predisposição genética, idade avançada, esforços repetitivos, excesso de peso, sedentarismo, atrofia da musculatura, artrose, estenose, hérnias de disco e desgastes ósseos, entre outros.
“Muita gente no início [da pandemia] deixou de se tratar, inclusive as pessoas com doenças crônicas. Elas tinham medo de ir aos consultórios por causa da Covid. Depois veio a teleconsulta e conseguimos aproximar um pouco mais esses pacientes, mas ainda assim muita gente não voltou”, explica Lopes.
“Agora, com a liberação das medidas de restrição, houve esse aumento da procura em dois cenários: os crônicos, que já estavam em tratamento, e os novos, que muitas vezes sofreram também com o home office ou as mudanças no estilo de vida e foram impactados com o estresse, a ansiedade e a depressão, pois a dor tem tudo a ver com o contexto emocional da pessoa. E ainda tem aquelas que deixaram a academia, ficaram sedentárias e ganharam peso, sofrendo com a parte física”, completa.
Segundo o especialista, os idosos também foram prejudicados, pois tiveram perda de massa muscular e sofreram com osteoporose e falta de vitamina D devido à pouca exposição solar. Os problemas interferiram na cartilagem e no osso, aumentando o risco de quedas e fraturas.
Alexandre Fogaça, presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (regional São Paulo) e médico do Instituto de Ortopedia e Traumatologia do Hospital das Clínicas da USP, afirma que na maior parte dos casos a dor nas costas é benigna e cessa em até dois meses.
“A maioria é tratada conservadoramente com fisioterapia, controle de peso, atividade física e medicação. A minoria precisa de cirurgia”, ressalta.
Fogaça alerta que se passar de dois meses é preciso investigar a causa com um médico, pois há situações em que pode indicar um problema mais sério. “Existem alguns sinais de alerta que também mostram quando as pessoas devem procurar um médico: dor lombar associada à perda de peso e febre, pode ser infecção ou um tumor; se a dor estiver associada à perda de força, sensibilidade e alteração do controle da função intestinal e da bexiga, pode ser uma compressão neurológica”, explica Fogaça.
“Muita gente no início [da pandemia] deixou de se tratar, inclusive as pessoas com doenças crônicas. Elas tinham medo de ir aos consultórios por causa da Covid. Depois veio a teleconsulta e conseguimos aproximar um pouco mais esses pacientes, mas ainda assim muita gente não voltou”.
“Quando ela vem após um trauma, talvez tenha fratura. A dor ao repouso noturno pode ser sinal de tumores ou infecções; se ocorre em crianças e idosos essa dor tem que ser investigada”, completa Fogaça.
As dores benignas —chamadas de mecanicoposturais—, ocorrem devido a uma pequena lesão muscular, por fadiga ou por causa de sobrecarga da musculatura que sustenta a coluna. “É uma dor mais incipiente. Começa devagar e vai piorando. Quando movimenta o corpo também piora. É uma dor que o repouso ajuda, a musculatura fica sensível ao toque”, explica Lopes.
A dor que acorda a pessoa à noite, queima, irradia para algum membro, ou que está muito forte, acima de cinco numa escala de zero a dez pode ser indicativo de algo mais sério.